quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

AOS HABITANTES DA CIDADE

 Ed Rene Kivitz (http://outraespiritualidade.blogspot.com.br/2007_03_01_archive.html)

Como podemos reagir à explosão de violência e terror que invadiram nossas cidades e nossas vidas nos últimos tempos? O que podemos fazer para não perdermos a alegria de viver, não nos alienarmos e não nos deixarmos dominar pelo medo e a insegurança? Podemos ouvir palavra de Deus:

"Assim diz o Senhor dos Exércitos, o Deus de Israel, a todos os exilados, que deportei de Jerusalém para a Babilônia: 'Construam casas e habitem nelas; plantem jardins e comam de seus frutos. Casem-se e tenham filhos e filhas; escolham mulheres para casar-se com seus filhos e dêem as suas filhas em casamento, para que também tenham filhos e filhas. Multipliquem-se e não diminuam. Busquem a prosperidade da cidade para a qual eu os deportei e orem ao Senhor em favor dela, porque a prosperidade de vocês depende da prosperidade dela'." (Jeremias 29.4-7)
"A justiça habitará no deserto, e a retidão viverá no campo fértil. O fruto da justiça será paz; o resultado da justiça será tranqüilidade e confiança para sempre. O meu povo viverá em locais pacíficos, em casas seguras, em tranqüilos lugares de descanso, mesmo que a saraiva arrase a floresta e a cidade seja nivelada ao pó. Como vocês serão felizes, semeando perto das águas, e deixando soltos os bois e os jumentos!" (Isaías 32.16-20)
Devemos lembrar que a cidade não é o lugar do nosso descanso, é nosso exílio. A monstruosa cidade, com suas relações humanas conflituosas, suas estruturas de poder carcomidas pela ganância e pela indiferença ao sofrimento alheio, suas redes criminosas de poder, seus justos acuados e seus valentes agredidos e mortos, não é outro lugar senão o ambiente do exílio, onde não nos sentimos em casa nem mesmo no conforto do lar.

Devemos nos alimentar da esperança: a justiça triunfará e a paz nascerá como o sol do meio-dia. Nascerá o sol da justiça trazendo tranqüilidade e confiança para sempre. Os que confiam em Deus habitarão lugares pacíficos, casas seguras e tranqüilos lugares de descanso, apesar da guerra, da peste, da morte e da fome.

Devemos resistir até a última gota de sangue e de lágrima. Resistir com amor, trabalho, diversão e arte. Continuaremos a viver romances, fazer amor e gerar filhos. Construiremos casas, plantaremos pomares e desafiaremos a morte nos lambuzando nos frutos do nosso trabalho. Cultivaremos jardins no meio do caos e encheremos o vale da sombra da morte com nossas flores.

Resistiremos com família e oração. Andaremos de mãos dadas com nossos filhos, nossos amigos, nossos irmãos. Ergueremos as mãos aos céus em oração e súplica pela cidade. Empreenderemos para a prosperidade da cidade e prosperaremos com ela. Continuaremos caminhando, cantando e servindo. Até chegar aquele dia, quando todas as vítimas serão acolhidas no reino de Deus e a terra se encherá do conhecimento da glória do Senhor como as águas cobrem o mar. No céu haverá festa sem fim. E o inferno ficará em silêncio.

O tempo e a eternidade

Ed Rene Kivitz (http://outraespiritualidade.blogspot.com.br/2007_03_01_archive.html)

Trabalhar é cooperar com Deus para colocar ordem no caos. Na verdade, qualquer boa ação é um gesto solidário ao coração de Deus, que sempre desejou que esse mundo fosse um jardim. Dizem que quem não faz parte da solução, faz parte do problema, e, nesse caso, todo cristão deve agir como parte da solução para que o caos social, político, econômico, ético e ecológico seja revertido o máximo possível. Existe uma lógica para isso. Aliás, uma lógica que nem todo cristão alcança.


Por exemplo, quem acredita que haverá um dia quando Jesus substituirá esse mundo por um novo e uma nova terra, não tem muita razão para trabalhar para que este mundo seja melhorado e transformado. Por que gastar tempo, recursos e dedicar a vida a manter e aperfeiçoar algo que vai acabar? Talvez, no mínimo para evitar que o caos inviabilize nossa vida nesse mundo ou acabe batendo à nossa porta: até quem pensa que esse mundo vai acabar mesmo não deseja ficar sem água, ter um filho vítima da violência urbana ou ser usurpado por um governo corrupto. Talvez para anunciar que o reino de Deus virá em breve, e que é bom que as pessoas comecem a se preparar para viver nele, que, aliás, já dá os seus sinais. De fato, cuidar do mundo enquanto vivemos nele e promover sinais históricos do reino de Deus na história são duas excelentes razões para que todo cristão se comprometa a cooperar com Deus para colocar ordem no caos.

Mas, consideremos uma terceira razão. E se o novo céu e a nova terra não forem "outro mundo", mas esse mundo, levado, por Deus, à sua plenitude? E se nosso trabalho e boas ações repercutirem na eternidade como matéria prima que Deus usa para a transformação desse mundo em novo céu e nova terra? Você já imaginou a possibilidade de que, assim como você vive para sempre, seu trabalho e suas boas obras também subsistam por toda a eternidade, e que os sinais históricos do reino de Deus não cairão no vazio do nada, mas continuarão testemunhando a graça e a glória de Deus para todo o sempre?

Jesus disse que as pessoas abençoadas por nós na história nos receberão na eternidade. Paulo, apóstolo, disse que no juízo final Deus colocaria fogo na casa que construímos na história e preservaria apenas o que fosse ouro, prata e pedras preciosas. João, apóstolo, disse que a Nova Jerusalém desce do céu: desce para onde? O "fim do mundo" no Novo Testamento é mais parecido com uma mudança de tempo ou era (este século e o vindouro) do que uma mudança de endereço ou lugar. Os rabinos acreditam que "as boas ações dos homens são as sementes que Deus usa para plantar as árvores do paraíso". É possível que não estejam muito longe de ter razão.